O
texto Hara, permite reflexões de ordem social, pois alunos da EJA são alunos
que não tiveram sucesso no ensino regular e de classe social inferior, e acabam
sendo ‘excluidos’ de certa forma da sociedade. São permanentes os
questionamentos sobre os objetivos da educação básica, suas formas de
funcionamento e a natureza de suas práticas pedagógicas.
Infelizmente,
a educação brasileira não tem atingido as metas mínimas que se espera para que
o nosso país possa concorrer em igualdade, tanto em recursos e capital humano
como na área de tecnologia. O sistema atual, ainda, não prepara jovens e
adultos trabalhadores para o exercício de suas vidas, tanto no nível da
sociedade quanto para o exercício profissional no mercado de trabalho.
A
compreensão deste fenômeno permite apontar que a motivação para o abandono, a
evasão e a repetência são resultantes de metodologias distanciadas da realidade
do aluno, pois partem de propostas não focadas na clientela em questão, onde os
currículos utilizados pela maioria das escolas públicas são assinalados os
programas com conteúdos academicistas e enciclopédicos, onde os saberes estão
dissociados entre si e entre o que se ensina na escola e o que, de fato,
acontece na vida cotidiana e no mundo do trabalho daqueles que deveriam ser os
protagonistas de suas aprendizagens.
Considera-se,
ainda, que o jovem e o adulto ao ingressar na escola e submetido a um processo
educativo formal, já construiu, até então, um conjunto fundamental de saberes
através de suas experiências de vida e de trabalho, que este deve ser
respeitado e validado pela escola e por seus professores. Dessa forma, fica
assegurado que seus conhecimentos prévios sirvam como pressupostos de suas
condições favoráveis para o aprender e que permitirão a adoção de uma metodologia
mais coerente com as exigências da sociedade e do mundo do trabalho.
Nessa
concepção, o aluno como sujeito/autor de seu aprendizado desenvolve sua
autonomia e, ao mesmo tempo, as aprendizagens coletivas com a cooperação de
seus pares e professores-tutores, numa experiência dialógica e permanente,
mediadas pelas ferramentas das tecnologias da informação e comunicação,
presentes na educação a distância.
Importante
citar FREIRE (2006) que ressalta o “aprender” como um ato de libertação que
[...] não se dá dentro da consciência dos homens isolada do mundo, mas na
práxis destes dentro da história que, implicando a relação consciência-mundo,
envolve a consciência crítica dessa relação [...] (p. 116).
O
mesmo autor salienta, ainda, que essa relação não se restringe apenas ao aluno,
ao contrário, inclui o professor que é considerado por ele um orientador na
medida em que ele é o responsável por conduzir o “aprender a aprender e o
aprender a fazer”.
Além
disso, salienta-se que uma abordagem pedagógica interativa e dialógica
necessita uma formação consistente por parte dos professores a fim de
evidenciar, no processo de ensino e de aprendizagem, a concepção pedagógica
condutora e as ações pedagógicas empregadas em sala de aula virtual e
presencial.
A
leitura sobre a alfabetização de adultos faz uma ligação entre Emilia Ferreira
e Paulo Freire, que ainda é um desafio na contemporaneidade, pois para os
professores, atualmente, há várias provocações desde ensinar o que é básico
como a leitura, a escrita, o cálculo – na perspectiva do desenvolvimento de
competências, que são os meios, assim como ensinar os saberes aplicados ao
contexto de situações-problema e de tomadas de decisão são os fins.
A
concepção freireana de homem e de mundo, remete, em sua essência, a uma postura
pedagógica:
Assim,
a vocação do homem é a de ser sujeito e não objeto (...) não existem senão homens
concretos ('não existe homem no vazio'). Cada homem está situado no espaço e no
tempo, no sentido em que vive numa época precisa, num lugar preciso, num contexto
social e cultural preciso. O homem é um ser de raízes espaço-temporais.(...)
Para o homem, o mundo é uma realidade objetiva, independente dele, possível de ser
conhecida. A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar
com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele
dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai
acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os
espaços geográficos. Faz cultura. E é ainda o jogo dessas relações do homem com
o mundo e do homem com os homens, desafiado e respondendo ao desafio,
alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de
relativa preponderância, nem das sociedades e nem das culturas. E, na medida em
que cria, recria e decide, vão se conformando as épocas históricas. É também
criando, recriando e decidindo que o homem deve participar destas épocas.
Os
alunos, hoje, precisam de professores/orientadores que visem a tornar a relação
de ensinante e de aprendente:
[...]
uma relação pessoal, direta e intensa com os objetos de conhecimento; deve
saber conduzir projetos de pesquisa, situações de jogos ou experiências que
tenham valor de pesquisa, conduzindo o aluno através de perguntas e a definir
um caminho ou método para respondê-las.[...] (Meirieu, 1998).
Os
docentes devem exercer o papel de orientador valorizando, por exemplo, a
redação dos resultados de pesquisas dos estudantes, uma vez que a escrita é uma
das formas mais privilegiadas de comunicação e quem faz pesquisa deseja
comunicar de forma impressa, possível de ser lida, vista ou ouvida de um modo
permanente, isto é, se não recebe a valorização de seus achados sente-se
desestimulado.
Outra
competência didática exigida do professor, ao longo do trabalho, é o de gestor
de conflitos e interesses de forma democrática. O professor deve ser capaz de
ser: o organizador de debates e construção/reconstrução de combinados coletivos
ou de regras de convívio, coordenar seminários ou discussões e favorecer a
expressão e produção de argumentos, ideias ou sugestões sobre questões para a
tomada de decisões em grupo e assegurar que sejam respeitadas.
Da
mesma maneira, ensinar democracia sendo o próprio modelo, para o bom
funcionamento da escola, mas também como exemplo para o exercício da democracia
para a vida fora dela com as normas políticas e coletivas, que necessitam ser
cumpridas.
HARA,
Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio. 3. ed. São Paulo: CEDI,
1992.
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