quinta-feira, 14 de junho de 2018

HARA, Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio EJA


O texto Hara, permite reflexões de ordem social, pois alunos da EJA são alunos que não tiveram sucesso no ensino regular e de classe social inferior, e acabam sendo ‘excluidos’ de certa forma da sociedade. São permanentes os questionamentos sobre os objetivos da educação básica, suas formas de funcionamento e a natureza de suas práticas pedagógicas.

Infelizmente, a educação brasileira não tem atingido as metas mínimas que se espera para que o nosso país possa concorrer em igualdade, tanto em recursos e capital humano como na área de tecnologia. O sistema atual, ainda, não prepara jovens e adultos trabalhadores para o exercício de suas vidas, tanto no nível da sociedade quanto para o exercício profissional no mercado de trabalho.

A compreensão deste fenômeno permite apontar que a motivação para o abandono, a evasão e a repetência são resultantes de metodologias distanciadas da realidade do aluno, pois partem de propostas não focadas na clientela em questão, onde os currículos utilizados pela maioria das escolas públicas são assinalados os programas com conteúdos academicistas e enciclopédicos, onde os saberes estão dissociados entre si e entre o que se ensina na escola e o que, de fato, acontece na vida cotidiana e no mundo do trabalho daqueles que deveriam ser os protagonistas de suas aprendizagens.

Considera-se, ainda, que o jovem e o adulto ao ingressar na escola e submetido a um processo educativo formal, já construiu, até então, um conjunto fundamental de saberes através de suas experiências de vida e de trabalho, que este deve ser respeitado e validado pela escola e por seus professores. Dessa forma, fica assegurado que seus conhecimentos prévios sirvam como pressupostos de suas condições favoráveis para o aprender e que permitirão a adoção de uma metodologia mais coerente com as exigências da sociedade e do mundo do trabalho.

Nessa concepção, o aluno como sujeito/autor de seu aprendizado desenvolve sua autonomia e, ao mesmo tempo, as aprendizagens coletivas com a cooperação de seus pares e professores-tutores, numa experiência dialógica e permanente, mediadas pelas ferramentas das tecnologias da informação e comunicação, presentes na educação a distância.

Importante citar FREIRE (2006) que ressalta o “aprender” como um ato de libertação que [...] não se dá dentro da consciência dos homens isolada do mundo, mas na práxis destes dentro da história que, implicando a relação consciência-mundo, envolve a consciência crítica dessa relação [...] (p. 116).

O mesmo autor salienta, ainda, que essa relação não se restringe apenas ao aluno, ao contrário, inclui o professor que é considerado por ele um orientador na medida em que ele é o responsável por conduzir o “aprender a aprender e o aprender a fazer”.

Além disso, salienta-se que uma abordagem pedagógica interativa e dialógica necessita uma formação consistente por parte dos professores a fim de evidenciar, no processo de ensino e de aprendizagem, a concepção pedagógica condutora e as ações pedagógicas empregadas em sala de aula virtual e presencial.

A leitura sobre a alfabetização de adultos faz uma ligação entre Emilia Ferreira e Paulo Freire, que ainda é um desafio na contemporaneidade, pois para os professores, atualmente, há várias provocações desde ensinar o que é básico como a leitura, a escrita, o cálculo – na perspectiva do desenvolvimento de competências, que são os meios, assim como ensinar os saberes aplicados ao contexto de situações-problema e de tomadas de decisão são os fins.

A concepção freireana de homem e de mundo, remete, em sua essência, a uma postura pedagógica:

Assim, a vocação do homem é a de ser sujeito e não objeto (...) não existem senão homens concretos ('não existe homem no vazio'). Cada homem está situado no espaço e no tempo, no sentido em que vive numa época precisa, num lugar preciso, num contexto social e cultural preciso. O homem é um ser de raízes espaço-temporais.(...) Para o homem, o mundo é uma realidade objetiva, independente dele, possível de ser conhecida. A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura. E é ainda o jogo dessas relações do homem com o mundo e do homem com os homens, desafiado e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de relativa preponderância, nem das sociedades e nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide, vão se conformando as épocas históricas. É também criando, recriando e decidindo que o homem deve participar destas épocas.

Os alunos, hoje, precisam de professores/orientadores que visem a tornar a relação de ensinante e de aprendente:

[...] uma relação pessoal, direta e intensa com os objetos de conhecimento; deve saber conduzir projetos de pesquisa, situações de jogos ou experiências que tenham valor de pesquisa, conduzindo o aluno através de perguntas e a definir um caminho ou método para respondê-las.[...] (Meirieu, 1998).

Os docentes devem exercer o papel de orientador valorizando, por exemplo, a redação dos resultados de pesquisas dos estudantes, uma vez que a escrita é uma das formas mais privilegiadas de comunicação e quem faz pesquisa deseja comunicar de forma impressa, possível de ser lida, vista ou ouvida de um modo permanente, isto é, se não recebe a valorização de seus achados sente-se desestimulado.

Outra competência didática exigida do professor, ao longo do trabalho, é o de gestor de conflitos e interesses de forma democrática. O professor deve ser capaz de ser: o organizador de debates e construção/reconstrução de combinados coletivos ou de regras de convívio, coordenar seminários ou discussões e favorecer a expressão e produção de argumentos, ideias ou sugestões sobre questões para a tomada de decisões em grupo e assegurar que sejam respeitadas.

Da mesma maneira, ensinar democracia sendo o próprio modelo, para o bom funcionamento da escola, mas também como exemplo para o exercício da democracia para a vida fora dela com as normas políticas e coletivas, que necessitam ser cumpridas.

 

HARA, Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio. 3. ed. São Paulo: CEDI, 1992.

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